quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Luiza - Tom Jobim

"Fico pensando nas mulheres retratadas nas canções de nossos grandes compositores. Quem são estas mulheres? Elas são reais? Quem ou o que serviu de inspiração para compor estas canções? Em especial, penso em Luíza, a mulher misteriosa da música de Tom Jobim. A mulher que Tom tenta, sem sucesso, esquecer. Luíza, o nome de mulher bonita. Seria loira ou morena? Definitivamente morena, com cabelos longos e negros. Para mim, Luíza tem um comportamento discreto, mas uma presença marcante assim como seu perfume. Aparentemente intocável, secretamente anseia por ser penetrada. Não tem pressa, não grita, não se descabela. Deixa que os homens a procurem e eles certamente o fazem como que hipnotizados por seus encantos de sereia." (http://www.mulheresde30.com/a-misteriosa-luiza-de-tom-jobim/) 

 Esquecer um grande amor não é tarefa fácil.




 Luiza
 Composição: Tom Jobim


Rua, 
Espada nua 
Boia no céu imensa e amarela 
Tão redonda a lua 
Como flutua 
Vem navegando o azul do firmamento 
E no silêncio lento 
Um trovador, cheio de estrelas 
Escuta agora a canção que eu fiz 
Pra te esquecer Luiza 
Eu sou apenas um pobre amador 
Apaixonado Um aprendiz do teu amor 
Acorda amor 
Que eu sei que embaixo desta neve mora um coração 
Vem cá, Luiza 
Me dá tua mão 
O teu desejo é sempre o meu desejo 
Vem, me exorciza 
Dá-me tua boca 
E a rosa louca 
Vem me dar um beijo 
E um raio de sol 
Nos teus cabelos 
Como um brilhante que partindo a luz 
Explode em sete cores 
Revelando então os sete mil amores 
Que eu guardei somente pra te dar 
Luiza 
Luiza 
Luiza 


Fontes: http://letras.terra.com.br/tom-jobim/20019/ 
http://www.mulheresde30.com/a-misteriosa-luiza-de-tom-jobim/ 
http://www.youtube.com/watch?v=5mjdErokZnE





"O amor é difícil 
mas pode luzir em 
qualquer ponto da cidade. 
E estamos na cidade" 


Ferreira Gullar











Fonte da imagem: http://teorize.files.wordpress.com/2008/06/cidade.png

Adiamento

Adiamento 
Álvaro de Campos


"Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã... 
Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã, 
E assim será possível; mas hoje não... 
Não, hoje nada; hoje não posso. 
A persistência confusa da minha subjetividade objetiva, 
O sono da minha vida real, intercalado, 
O cansaço antecipado e infinito, 
Um cansaço de mundos para apanhar um elétrico... 
Esta espécie de alma... 
Só depois de amanhã... 
Hoje quero preparar-me, 
Quero preparar-me para pensar amanhã no dia seguinte...
Ele é que é decisivo. 
Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos... 
Amanhã é o dia dos planos. 
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o rnundo;
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã... 
Tenho vontade de chorar, 
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...
Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo. 
Só depois de amanhã... 
Quando era criança o circo de domingo divertia-me toda a semana. 
Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância... 
Depois de amanhã serei outro, 
A minha vida triunfar-se-á, 
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático 
Serão convocadas por um edital... 
Mas por um edital de amanhã... 
Hoje quero dormir, redigirei amanhã... 
Por hoje, qual é o espetáculo que me repetiria a infância? 
Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã, 
Que depois de amanhã é que está bem o espetáculo... 
Antes, não... 
Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei. 
Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.
Só depois de amanhã... 
Tenho sono como o frio de um cão vadio. 
Tenho muito sono. 
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã...
Sim, talvez só depois de amanhã... 
O porvir... 
Sim, o porvir..." 





"A Esperança não murcha, ela não cansa, 
Também como ela não sucumbe a Crença. 
Vão-se sonhos nas asas da Descrença, 
Voltam sonhos nas asas da Esperança." 

 Augusto dos Anjos

Fonte da imagem: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4JrjKdF7PLIh28Bd1dfHv__IIejQsOKwi2NDEsuHOXy-RPvAdGO5QD1bkkDOG4ovDhegehlAcLXU_wCqfSk8jg0Rcn6aJI63pbZ2lQqZK241HLJ8L0-Emv6y7JmHlV3zMY4OFbBtT-6Y/s1600/esperanca.jpg

Ausência

Ausência
Vinicius De Moraes

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar seus olhos que são doces... 
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres exausto...
No entanto a tua presença é qualquer coisa, como a luz e a vida... 
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto... 
E em minha voz, a tua voz... 
Não te quero ter, pois em meu ser tudo estaria terminado... 
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados... 
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada... 
Que ficou em minha carne como uma nódoa do passado... 
Eu deixarei... 
Tu irás e encostarás tua face em outra face... 
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada... 
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu... 
Porque eu fui o grande íntimo da noite... 
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa... 
Porque os meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço... 
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado... 
E eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos... 
Mas eu te possuirei mais que ninguém, porque poderei partir... 
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas,serão a tua voz presente, tua voz ausente, a tua voz serenizada.