XXII
"Quantas vezes, amor, te amei sem ver-te e talvez se lembrança,
sem reconhecer teu olhar, sem fitar-te, centaura,
em regiões contrárias, num meio-dia queimante:
era só o aroma dos cereais que amo.
Talvez te vi, te supus ao passar levantando uma taça
em Angola, à luz da lua de junho,
ou eras tu a cintura daquela guitarra
que toquei nas trevas e ressoou como o mar desmedido.
Te amei sem que eu o soubesse, e busquei tua memoria.
Nas casas vazias entrei com lanterna a roubar teu retrato.
Mas eu já não sabia como eras. De repente
enquanto ias comigo te toquei e se deteve minha vida:
diante de meus olhos estavas, regendo-me, e reinas.
Como fogueira nos bosques o fogo é teu reino."
XXV
"Antes de amar-te, amor, nada era meu:
vacilei pelas ruas e as coisas:
nada contava nem tinha nome:
o mundo era do ar que esperava.
E conheci salões cinzentos,
tuneis habitados pela lua,
hangares cruéis que se despediam,
perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo,
caído, abandonado e decaído,
tudo era inalienavelmente alheio,
tudo era dos outros e de ninguém,
até que tua beleza e tua probreza
de dádivas encheram o outono."
LXI
"Trouxe o amor sua cauda de dores,
seu longo raio estático de espinhos,
e fechamos os olhos porque nada,
para que nenhuma ferida nos separe.
Não e culpa de teus olhos este pranto:
tuas mãos não cravaram esta espada:
não buscaram teus pés este caminho:
chegou a teu coraçã o mel sombrio.
Quando o amor como uma imensa onda
nos estrelou contra a pedra dura,
nos amassou com uma só farinha,
caiu a dor sobre utro doce rosto
e assim na luz da estação aberta
se consagrou a primavera ferida."
4 comentários:
Hola,
Tu blog es muy interesante porque muestra un interés por temas humanísticos y por temas relacionados con el mundo científico.
Mucha suerte y un cordial saludo,
Carlos (desde Colmenar Viejo, España)
Hola, Carlos!
Yo estoy muy feliz con su comentario, no sabía que mi blog ya estaba más allá de las fronteras de Brasil!
Sigue visitándonos, siempre será bienvenido!
Lo siento, pero mi español es horrible.
Besos
Juliana Port
Olá...cmo já estou virando tua fã...publica para mim o soneto XLV do Pablo Neruda, é o meu predileto...Obrigado! Abração
Aninha amada!!!
Valeu pelas visitas e comentários!!!
Com certeza atenderei sua solicitação, vou tentar publicar ainda hoje.
Beijos
Postar um comentário