Já que nas últimas postagens falei um pouco a respeito da obra de Chico Buarque, vou aproveitar para dar uma dica de leitura deste cantor, compositor, escritor, poeta: o romance Budapeste. Comecei a ler Budapeste hoje à tarde e estou encantada com o jogo que Chico Buarque faz com as palavras. É daqueles livros que você começa a ler e tem vontade de devorá-lo.
Junte um autor renomado, uma edição primorosa e críticas favoráveis da mídia que você encontrará um campeão de vendas, desses que se instalam na memória coletiva e tornam-se referência para lembrarmos de uma época. É através de Budapeste que, daqui a uns dois ou três anos, estarei lembrando da minha vida no final de 2003.
Analisando-o como objeto, independente do conteúdo literário, Budapeste proporciona prazer até mesmo para um analfabeto. Com a sua capa/contracapa mostarda em papel áspero-deslizante ostentando em alto-relevo o nome do autor e seu personagem. As páginas amareladas cedendo lugar às palavras negras em alta-definição dispostas em linhas espaçadas entre margens generosas às anotações.
Como obra de arte, Budapeste me parece um romance instável, equilibrando-se entre reflexões metalinguísticas e um humor caricatural. Nesta oscilação discrepante, Chico Buarque revela sua genialidade não desperdiçando a oportunidade de compartilhar com o personagem José Costa (ghost-writer de profissão) o sofrimento de se amar as palavras. Este é o grande trunfo de Chico Buarque. Usando a metalinguagem, Budapeste transforma-se num jogo de auto-referência onde há um livro dentro do livro, um autor dentro do autor, similar às típicas bonequinhas russas matryoska.
O problema é que Chico Buarque parece ter sido dominado pela paixão obsessiva de José Costa às palavras. E como todo homem nessas condições, tornou-se vulnerável, ingênuo e impulsivo, permitindo meter-se em situações bizarras sem sentido. O humor caricatural aos poucos vai cansando, tornando-se banal, expondo situações non-sense a uma descrição ingênua e superficial, grotescamente estereotipada. São cenas facilmente identificadas que deveriam ser engraçadas, mas quando muito, geram um desconcertante sorriso amarelo semelhante ao incômodo quando somos submetidos a ouvir uma piada ruim e mal contada por alguém ridículo que chora de rir com a própria piada.
Budapeste, porém, se sobressai consolidando-se como um livro acima da média. Tudo graças ao seu final. E que final. Uma descida de montanha russa reveladora onde Chico Buarque consegue se desvencilhar, ou, de certa maneira, explicar o humor caricatural usado. Um final convidativo para uma nova leitura, porque esta será diferente, lida com outros olhos.
Analisando-o como objeto, independente do conteúdo literário, Budapeste proporciona prazer até mesmo para um analfabeto. Com a sua capa/contracapa mostarda em papel áspero-deslizante ostentando em alto-relevo o nome do autor e seu personagem. As páginas amareladas cedendo lugar às palavras negras em alta-definição dispostas em linhas espaçadas entre margens generosas às anotações.
Como obra de arte, Budapeste me parece um romance instável, equilibrando-se entre reflexões metalinguísticas e um humor caricatural. Nesta oscilação discrepante, Chico Buarque revela sua genialidade não desperdiçando a oportunidade de compartilhar com o personagem José Costa (ghost-writer de profissão) o sofrimento de se amar as palavras. Este é o grande trunfo de Chico Buarque. Usando a metalinguagem, Budapeste transforma-se num jogo de auto-referência onde há um livro dentro do livro, um autor dentro do autor, similar às típicas bonequinhas russas matryoska.
O problema é que Chico Buarque parece ter sido dominado pela paixão obsessiva de José Costa às palavras. E como todo homem nessas condições, tornou-se vulnerável, ingênuo e impulsivo, permitindo meter-se em situações bizarras sem sentido. O humor caricatural aos poucos vai cansando, tornando-se banal, expondo situações non-sense a uma descrição ingênua e superficial, grotescamente estereotipada. São cenas facilmente identificadas que deveriam ser engraçadas, mas quando muito, geram um desconcertante sorriso amarelo semelhante ao incômodo quando somos submetidos a ouvir uma piada ruim e mal contada por alguém ridículo que chora de rir com a própria piada.
Budapeste, porém, se sobressai consolidando-se como um livro acima da média. Tudo graças ao seu final. E que final. Uma descida de montanha russa reveladora onde Chico Buarque consegue se desvencilhar, ou, de certa maneira, explicar o humor caricatural usado. Um final convidativo para uma nova leitura, porque esta será diferente, lida com outros olhos.
Thiago Corrêa - lido em Dez./Jan. de 2004 escrito em 06.02.2004
: : TRECHO : : “Cobri o texto com as mãos e fui removendo os dedos a cada milímetro, fui abrindo as palavras letra a letra como jogador de pôquer filando cartas, e eram precisamente as palavras que eu esperava. Então tentei as palavras mais inesperadas, neologismos, arcaísmos, um puta que o pariu sem mais nem menos, metáforas geniais que me ocorriam de improviso, e o que mais eu concebesse já se achava ali impresso sob minhas mãos. Era aflitivo, era como ter um interlocutor que não parasse de tirar palavras da minha boca, era uma agonia. Era ter um plagiário que me antecedesse, ter um espião dentro do crânio, um vazamento na imaginação.” (p. 24)
: : FICHA TÉCNICA : : Budapeste - Chico Buarque - Companhia das Letras, 1a. edição, 2003 - 174 páginas
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