O mais aguçado par de olhos da MPB. O mais belo sorriso ou ainda o dono das mais belas letras. Definir Chico Buarque não é tarefa simples.
A família Buarque de Hollanda sempre teve paixão pela música. A mãe, Maria Amélia Cesário Alvim, é pianista amadora. O pai, o historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Hollanda, morto em 1982, também tocava o instrumento de ouvido e apreciava sambas antigos e músicas italianas, sem falar das quatro irmãs - Miúcha, Maria do Carmo, Cristina e Ana -, que sempre gostaram de cantar (com exceção de Maria do Carmo, as outras gravaram discos). Desde pequeno Chico demonstrava interesse pela música. Com cinco anos, colecionava fotos de cantores de rádio, que ia colando em um álbum, e dizia querer ser um deles. Cantava escondido atrás da porta para dar impressão de que a voz saía de um rádio.
Tanta inventividade trocou de continente em 1953, quando o pai foi dar aulas na Universidade de Roma e a familia toda segui para a Itália. Nesse período, sua casa era freqüentada por intelectuais brasileiros, inclusive Vinícius de Moraes, seu futuro parceiro em belíssimas composições. Paranão perder as conversas do poeta com os pais, Chico se escondia no topo da escada e ali ficava, ouvindo os adultos.
A família voltou para o Brasil e o gosto de Chico pela música ja não era o mesmo. Havia sido substituído pelo futebol, paixão que o acompanha ao longo da vida e que tem como símbolos Pagão, ex-atacante do Santos, e o Fluminense, time para o qual torce. Sua ligação com a canção só voltou a se estreitar na adolescência. Aos 15 anos, além dos sambas de Noel Rosa, Ismael Silva e Ataulfo Alves, ouvia e imitava artistas estrangeiros como Elvis Presley e The Platters. Mas a grande guinada veio em 1959, com o LP Chega de Saudade, de João Gilberto, que trazia a Bossa Nova. Chico ouvia disco repetidas vezes, a ponto de irritar toda a família. Aprendeu a batida da Bossa Nova e fez sua primeira composição, Canção dos Olhos.
Em dezembro de 1961, uma molecagem o levaria pela primeira vez a uma delegacia. Chico e um vizinho resolveram furtar um carro para dar umas voltas. A dupla escolheu um velho Peugeot estacionado perto de casa. Cmo foi fácil, dias depois resolveram repetir a brincadeira com o mesmo carro. Dessa vez, porém, o dono do automóvel havia retirado uma peça e o veículo não funcionou, mas começou a descer a rua Sorocaba (atual Professor Ernest Marcus), onde estava, e só parou atrás do estádio do Pacaembu. Os dois ainda tentaram fazer o carro andar quando passou uma viatura policial. Foram espancados e algemados. Como castigo pela molecagem, ficou até 19 de junho de 1962, quando fez 18 anos, sem poder sair sozinho à noite.
A punição não foi suficiente para impedir que Chico acabasse preso em outras três ocasiões. A primeira em Itanhaém, quando comemorou a entrada na FAU com um discurso em cima da mesa de um restaurante, de onde ia atirando ovos na platéia; a segunda, ao colcar um muro abaix, em Santos, com um grupo de amigos; e a terceira, de novo em São Paulo, por uma batida de carro sem gravidade.
Chico, ou o Carioca, como o chamavam, abandonou a FAU no terceiro ano, mas enquanto esteve lá cruzou com muita gente que também gostava de música. Próximo a faculdade havia o reduto paulista da Bossa Nova, o Juão Sebastião Bar, onde conheceu Gilberto Gil e Caetano Veloso. Na FAU havia festas memoráveis movidas a samba e cachaça, freqüentadas também por gente de fora da escola, como João do Vale e Toquinho.
Seu primeiro compacto, com Pedro Pedreiro e Sonho de Carnaval, foi lançado em 1975.
Batendo na repressão
Problemas, mesmo, ele teve com a censura. O primeiro, logo em 1966, com a proibição da música Tamandaré, considerada ofensiva ao patrono da Marinha. Sofreu até 1976, ano de seu último disco a enfrentar problemas: Meus Caros Amigos.
Imagem: http://vidaordinaria.files.wordpress.com/2008/09/chico-buarque.jpg
Fonte: Fascículo nº 1 "A Música do Século", distribuído juntamente com a edição nº 271 da revista CARAS.
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