sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

SÉRIE IMORTAIS: Vinícius de Moraes - poesias (parte I)

Ao falar de Vinícius de Moraes é praticamente impossível não citar paralelamente outros escritores, poetas, músicos e intérpretes que fizeram parte, direta ou indiretamente, de sua magnífica obra. Em edições anteriores falamos de Pablo Neruda, grande amigo de Vinícius de Moraes.
Em paralelo com essa postagem, que será de algumas poesias de Vinícius de Moraes, publicarei material sobre outro amigo e poeta: Mario de Andrade.

Ausência

"Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces.
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada.
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada. "

MORAES, Vinícius de. ANTOLOGIA POÉTICA.


Soneto da separação

"De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente."

A um passarinho

"Para que vieste
Na minha janela
Meter o nariz?
Se foi por um verso
Não sou mais poeta
Ando tão feliz!
Se é para uma prosa
Não sou Anchieta
Nem venho de Assis.
Deixa-te de histórias
Some-te daqui!"

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi!
Parabéns, seu blog está cada dia melhor, assim como eu a cada dia estou mais sua fã...
Você acertou em cheio, pois o poema Ausência é um dos meus prodiletos... Assim sendo, tomo a liberdade de te fazer mais um pedido: poste a música Onde anda Você... Essa música marcou meus tempos de boemia, hehehe...
Abracão, até mais!

Ana Edinger

Cultura e Ciência do Brasil disse...

Amada, atender a mais este pedido será um prazer, pois amo essa música. Não sei se chegou a ouvir a versão da Maysa que postei hoje da música "Eu Sei Que Vou te Amar". Lindíssima.

Também sou tua fã, amiga... Tu sabe...

Te adoro!!! E obrigada de coração, pelas visitas, sugestões, comentários.

Beijão e volte sempre!!!